Marmelos com Canela e Vinho do Porto

quinta-feira, outubro 05, 2017

"Não me corte em fatias. Ninguém consegue abraçar um pedaço..." Mário Quintana


Será que cada um de nós consegue ser sempre inteiro ?Será não somos feito dos mil pedaços do nosso passado, dos nossos sentimentos, tantas vezes ambivalentes; das contradições que cada um, em si contém; dos múltiplos pedaços em que se tem que dividir para chegar a todo o lado (e ser perfeito e inteiro, como nos exigem), em todos os papéis que tem que desempenhar?  E é impossível ser !  

Toda a gente pretende ser um pai ou mãe perfeitos. Eu sempre achei que não era uma mãe perfeita. Uma vez, certa mãe, virou-se para mim e disse: "eu sei que sou a melhor mãe do mundo" e ficou muito surpreendida quando lhe respondi que eu não, que me faltava muito para ser a melhor mãe do mundo! Porque tenho a certeza que mesmo como mãe, não sou perfeita!

Mesmo assim, de vez em quando dou por mim a pensar que até fiz um bom trabalho como mãe, quando a minha filha de 17 anos, vocacionada para o mundo cientifico e racional, se vira para mim  e se declara apaixonada pelo Fernando Pessoa. Quando regressamos de carro no caminho até casa, a discutir os seus heterónimos, a forma genial e perfeita como os criou,  a necessidade que sentiu para o fazer. Quando  acabamos as duas a falar desse vazio existencial, esse buraco negro que cada um tem sempre dentro de si, que nos faz  estar numa busca permanente de o preencher, ao longo da nossa vida. Sentir que ela, meu pedaço de filha, tinha chegado ali, a essa conclusão aos 17 anos, fez-me sentir que o meu pedaço de mãe não tinha sido tão imperfeito.



E a conclusão filosófica dessa nossa conversa foi que se calhar todos tínhamos necessidade de ter vários heterónimos, tal como Fernando Pessoa, para conseguir preencher um pouco mais esse vazio. Para conseguir sermos, vivermos e expressar-mos essas tantas pessoas diferentes que vivem, sentem e falam dentro de nós.
Confesso que me fez bem esta nossa conversa, tão companheira. Fiquei a pensar que hoje sou resultado de todos esses pedaços imperfeitos do que fui e fiz na vida. E amo e abraço, sem mágoas ou arrependimentos, cada pedaço do meu passado. Cada pedaço faz parte de mim, porque são os  "eus" imperfeitos que eu consegui ser. Não me corto em fatias mas sei que vou continuar a ser pedaços imperfeitos, contraditórios, que vou tentando expressar e abraçar para ser inteira. 
Tal como disse Pessoa "Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes."

Inteiros apetece abraçá-los ... mas estes Marmelos foram mesmo cortados em fatias. Perderam-se as folhas, lavou-se aquela penugem branca que faz lembrar a geada de inverno e colocaram-se a dourar com as cores de Outono.

Receita:
Porque os Marmelos não servem só para fazer Marmelada esta é uma sobremesa rápida!
Cortam-se os Marmelos depois de lavados, com casca, em fatias pequenas, em meias-luas. Colocam-se num pirex ou outro prato de ir ao forno . Salpica-se com água e rega-se com vinho do porto, polvilha-se com açúcar louro e canela e soltam-se por cima Estrelas de Anis. Vão ao forno até dourar.

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