Viana do Castelo - Romaria da Nossa Senhora d'Agonia

terça-feira, agosto 21, 2018

"A maior dor do vento é não ser colorido." Mário Quintana



Saí do trabalho na 6ª feira à tarde, com desejos de evasão. De repente surgiu a lembrança que era a altura das festas da Senhora d'Agonia em Viana do Castelo e pensei só em ir. Não pensei muito, só pensei em ir! Embora quem me conheça saiba como eu gosto de viver por antecipação, a planear qualquer viagem e  estudar ao pormenor um destino, antes de ir, como parte do meu prazer na viagem, desta vez deu-me prazer partir assim de repente. Não houve tempo para planificações...foi pensar e partir! E Hotel para dormir perto de Viana? Nada! Nem num raio de 50 quilómetros ( os que existiam tinham preços escandalosos)! Portanto foi fazer as malas sem saber muito bem se era para ficar ou voltar. E só durante a viagem marcar no Booking o Hotel Mercure Porto Gaia, que já conhecia, e que era dos poucos ainda disponíveis mas isso obrigou a regressar mais cedo de Viana.




Sempre tive vontade de ir às festas de Viana do Castelo, sobretudo para assistir ao desfile da Mordomia pelas ruas da cidade, mas esse tinha já sido na 6ª feira, pelo que restava assistir ao Cortejo Etnográfico e à noite ver o espetáculo de Pirotecnia sobre o Rio Lima.



Quando chegámos toda a cidade estava já em ambiente de Festa. Restava entrar no espírito : tive apenas tempo de comprar um Lenço Vianense e ata-lo em bico à cintura para ainda assistir ao encontro de bombos e cabeçudos na Praça de República. Fustigados pelo calor tivemos a sorte de conseguir almoçar na esplanada do Restaurante o Manel, que nos tinha sido recomendado e que de facto é excelente! Foi um milagre termos arranjado mesa para almoçar no meio daquele mar de gente! Mas valeu a pena ! Os Rojões e o Vinho Verde da casa assentaram bem, mesmo num dia tão quente!



De seguida, sob um sol escaldante, espantei-me por ver cadeiras de campismo e de esplanada perfiladas ao longo das avenidas, para assistir ao Cortejo Etnográfico da Romaria de Nossa Senhora d'Agonia. Este Cortejo reproduz as mais diversas tradições do concelho Vianense e da região Minhota, assinalando este ano duas datas comemorativas : os 140 anos da inauguração da Ponte Eiffel sobre o rio Lima e os 50 anos da Procissão ao Mar da Nossa Senhora d'Agonia. Encabeçada pelos Gigantones e Cabeçudos, seguidos por ranchos folclóricos, rusgas de concertinas e de bombos e zés-pereiras o ambiente transforma-se numa autêntica festa e o público assistia vibrando e aplaudindo. Ao longo do percurso, pequenos grupos de amigos juntavam-se com "comes e bebes", festejando e interagindo com os figurantes do desfile. A alegria é uma constante!Sentimos fazer parte da festa!




Um rastro de cor vermelha, azul, amarelo, verde e preto dos trajes convida e seduz às fotos e as moças fazem poses enquanto desfilam com o Trajes: Traje de Lavradeira, o Traje de Mordoma, o Traje de Noiva, o Traje de Meia Senhora, o Traje de Dó, Traje de Domingar, Traje de Feirar, Traje de Trabalho, trazendo ao presente o passado dos trajes tradicionais riquíssimos desta região (e para o qual já se pensa apresentar candidatura a Património da UNESCO). Ao desfilar, algumas das mulheres chegam a carregar ao peito dezenas de quilos de ouro, com peças próprias de família e de amigos, simbolizando a “chieira” (termo minhoto que significa orgulho) e outrora o poder financeiro das famílias. A moça de Viana não se sentia “ourada” caso não levasse postos os seus brincos e o seu colar de contas. Se não os levasse postos iria sentir-se "fanada"! As peças de ourivesaria são lindas e deixaram-me a sonhar com os tradicionais brincos Rainha.



As características deste trajes minhotos, com o seu colorido e a profusão de elementos decorativos, permitem identificar facilmente a região de origem de onde provêm, dentro do concelho de Viana do Castelo, sendo um símbolo de identidade local: os azuis são associados às terras viradas ao mar, os verdes das terras montanhosas e verdejantes, o traje vermelho é "à vianesa" ou "à moda do Minho" por excelência.





Enquanto assistia ao desfile, anoiteceu sem que eu desse por isso, tão entretida que estava com as cores e desenhos. Segui no final  do Cortejo atrás dos bombos para desaguar à beira-rio no rio a beber uma imperial bem fresquinha enquanto me sentava a observar a cor da multidão.

Despedi-me deste dia, cheia de pena de ter sido só um dia, rumando para o Porto,  cheia de cor nos olhos e sem ter visto o fogo de artificio sobre o rio, uma vez que foi cancelado porque, devido ao calor intenso, o país estava sobre alerta vermelho e com impossibilidade de manifestações pirotécnicas.

Para a próxima durmo na relva do Jardim como me aconselhou o meu tio de 95 anos."Festas de Viana?"- disse-me ele - "Isso dorme-se no jardim, no que restar da noite depois de ver o Fogo de Artificio. Era assim que eu fazia quando lá ia!" Conselho sábio que acho que irei seguir no próximo ano, se tiver problemas de alojamento! Sim porque vou voltar! Com mais tempo!







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2 Comments

  1. Belíssimas fotos e boa descrição, sem faltar a tua emoção caraterística no ver e sentir

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  2. Obrigado Carminho Garção! É um defeito meu viver tudo intensamente :)...

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