Ilha do PIco I - O reencontro

quinta-feira, julho 06, 2017

" A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa." Mia Couto in O outro pé da Sereia


O escritor Mia Couto, na sua escrita, retrata como em África, os mortos convivem bem no mundo dos vivos. As dimensões da morte e da vida confundem-se de forma quase pacifica, quase humorística, numa realidade muito própria do misticismo africano. Vive-se em várias dimensões e todas elas existem e coexistem. Para nós a morte e a vida são ainda separação, partida, ausência permanente.

Quando iniciei esta viagem em Junho para o Triângulo dos Açores: Pico, Faial e São Jorge estava longe de imaginar que iria regressar num dia de grande tragédia. Um calor abrasador e estranho assaltou de repente, assim que se saía do avião, em Lisboa, às 3 da tarde. Era um calor que parecia mau presságio e nessa tarde e noite, a tragédia aconteceu, de uma forma inimaginável, nos incêndios no Centro do País. 

Emudeci.

Fui trabalhar, voltei a ficar de férias na praia, farta de noticias sem respostas, comecei a ler "O outro pé da sereia". Continuei sem palavras, a remoer cá dentro o sentido das coisas e as coisas que não têm sentido. 
Voltar à Ilha do Pico era voltar a um sitio cheio de sentido. Tinha-lhe prometido voltar! Voltei passados muitos anos, mas voltei. Senti-me ali muito bem, quando ali estive da primeira vez, não sei explicar porquê, mas há sítios que exercem esse magnetismo. São sítios onde nos sentimos "em casa" sem ter casa. De tal forma que quando voltamos, passado tanto tempo, voltamos com medo, como se fossemos rever uma velha paixão...e se quando chegarmos não sentirmos o mesmo? O que iremos sentir quando lá chegarmos? 

You Might Also Like

0 Comments

Quer comentar?


Click here to see my Photos!