Ponte de Covelas - Portugal

sábado, novembro 10, 2018


"Façamos da interrupção um caminho novo. Da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte..."Fernando Sabino



Quando escolhemos um destino para viajar algo nos atrai para o mesmo, estuda-se o local, pontos de interesse à volta, e o objetivo é sempre explorar locais onde se possa fazer fotografia, sem ter muito interesse em fazer aquilo que é uma reportagem fotográfica. No fundo procura-se oportunidades únicas que nos encham os olhos...



Muitas vezes perdidos em sítios recônditos, sem ninguém à volta, é difícil depois pensar em percorrer restaurantes, para fazer "reportagem" dos mesmos, porque passa a hora do almoço, perdidos que estamos no meio do nada... ou porque estamos tão sujos e cheios de lama, que inviabiliza irmos almoçar a algum sitio decente. Mas é mesmo no meio do nada que os nossos olhos se enchem de lugares encantados. Não estão ali à beira da estrada e é necessário andar a pé para lá chegar, mas valem a pena por todas as imagens mágicas que se captam e por todas as que não são captadas, mas que nos fazem sentir...



Desta vez a viagem tinha como destino Caldas de Aregos, uma estância termal situada junto ao rio Douro ( de que vos falarei no próximo post). Era o ponto de chegada e dormida, escolhido apenas por lá ser o único hotel com disponibilidade para utilizar um "vaucher" da Odisseias, que me tinha sido oferecido no aniversário. Isto, depois de vários contactos com outros, que tinham disponibilidade no Booking, mas quando contactados para a utilização do referido "vaucher" referiam não ter disponibilidade... "adelante!"... foi esta contrariedade que nos conduziu a este lugar...


À partida leva-se muitas vezes um roteiro que não é cumprido, porque algo nos pára pelo caminho. Quando seguimos a seta para Ponte de Covelas (que estava no itinerário préviamente delineado) não sabíamos o que iríamos encontrar. Chegados à Aldeia de  Covelas (concelho de Cinfães) encontrámos uma aldeia quase deserta,, cheia de casas lindas, que eu adoraria recuperar, mas habitada por muito poucas pessoas, quase todas elas idosas que ali estão abandonadas. O único sobressalto na aldeia, é a buzina que anuncia a chegada do padeiro e que faz andar apressado quem ainda consegue fazê-lo. De resto é um vazio, num lugar que já deve ter conhecido dias mais felizes . Foi nessa aldeia que fiz esta foto. Estava a fotografar a porta e, num momento de sorte, apareceu o gato. Fez toda a diferença!


Pelas ruas deixei-me fascinar pelas fechaduras das casas, Confesso que tenho mesmo um "fetiche" por este tema e já uma grande coleção de fotos destas! Mas sempre que encontro uma porta velha perco-me a observar as fechaduras!


E enquanto estava a fotografar portas, senti-me observada por um senhor que ali estava à beira de uma casa, encostado a uma bengala. Começámos logo a falar como se nos conhecêssemos desde sempre. Acho que, modestamente é talvez um dom, dos poucos que eu tenho, esta facilidade de falar com um desconhecido e tornarmos-nos logo ali, em quase conhecidos. Falou-me, com nostalgia, dos doutores que ali habitaram noutros tempos nas casas mais faustosas que apontava com a bengala, e da esperanças, mal contidas, em que algumas delas fossem recuperadas. Com o barulho da nossa conversa algumas pessoas vieram à janela a observar-nos, talvez pelo simples prazer de ver gente ali...perguntei-lhe o caminho da ponte  e ele apontou acrescentando: "ó menina, para baixo é sempre a descer agora para cima!..."  e de facto, apesar das pedras escorredias no percurso a descer, para cima foi de ficar sem folêgo! Quando voltei encontrei o senhor à janela da sua casa à espera que eu voltasse! "Então? valeu a pena a subida?" perguntou-me, perante o meu ar ofegante. Respondi-lhe que sim, que entre folhagens e as arranhadelas das silvas, que caem e ameaçam bloquear o caminho, eu encontrei a ponte. Não lhe contei que tinha sentido que estava a passar um portal para um outro mundo....


Também acho que há qualquer coisa de mágico no Outono! As paisagens e as cores são mágicas e é em lugares como estes, onde não passa nem uma alma penada, que pensamos como o mundo é belo, como tudo isto é belo, e que pena que é se não preservamos este Mundo.! Aqui não se vê lixo, não se vê plástico e o ar até dói de tão puro! A água é transparente e é bom estar ali só pelo prazer de respirar! 




A Ponte é um pormenor que liga duas margens, entre as freguesias de Ferreiros e Tendais. Construída em granito no ano de 1762 sobre o Rio Bestança, a Ponte de Covelas  tem um estilo barroco e situa-se na freguesia de Ferreiros de Tendais, Concelho de Cinfães. Mas é a natureza frondosa e pouco habitada do local que valoriza a Vida em pequenos pormenores, em diferentes formas de vida! Num mundo que parece ser cada vez mais raro... e que ainda existe aqui, em Portugal 






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