Broas dos Santos
terça-feira, outubro 30, 2018"Outono é outra primavera, cada folha uma flor." Albert Camus
Eu, a Cármen e as Broas. Com tempo e a tentar parar o tempo (ou a recuperar o tempo?). Porque as broas exigem tempo para as fazer, e ela teve que parar o estudo, agora tão exigente, de Engenharia Aeroespacial, para vir para a cozinha e amassarmos a 4 mãos. Ela que tem umas mãos iguais às minhas. Acho piada a isso e não acho, podiam ser, as dela, mais bonitas que as minhas. E não sei se ela acha piada ou não, quando me diz : "Mãe nesta foto em que me estás a abraçar, vejo que os meus braços estão a ficar iguaizinhos aos teus! "... Sorrio. E pergunto-lhe se quer fazer broas. Desde que ela existe que sempre teve esta ligação com "amassar e tender" as broas. Logo ela, que não gosta de cozinhar! Desde pequenina que queria ajudar a Lourdes ou a minha mãe a amassá-las! Era um ritual que não dispensava, estava sempre lá. Com o tempo fomos perdendo rituais e muitas outras coisas: a Lourdes já cá não está e a avó, com 97 anos, já não consegue fazê-las. A Lourdes era amiga da família há muitos anos. Quando ficou desempregada ficou a trabalhar na nossa casa durante 12 anos. A Cármen adorava-a e ela tornou-se o nosso tudo: nossa melhor amiga, mãe, avó...e partiu cedo demais, nova demais, deixando-nos um enorme vazio.
Quando perguntei à Cármen: vamos fazer broas? Disse logo que sim. De algum modo é uma forma de ritual que nos traz de volta as pessoas ausentes. A vida parece ser mesmo isso: uma eterna aprendizagem de lidar com quem está presente mas sobretudo de gerir as ausências. Parece, às vezes, resumir-se a isto a vida!
O cheiro das broas, acabadas de fazer, a sair do forno, invade a casa e perfuma-nos o cabelo. Há uma espécie de consolo nisso, como se não se tivesse perdido nada pelo caminho. Há uma espécie de abraço no cheiro e no sabor que nos reconforta. É como se voltasse a estar tudo ali outra vez ...
Peguei nas velhas receitas da minha mãe, escritas em folhas de papel soltas.Têm anotações escritas dos anos em que as fazia: 2004 e em 2006 são as últimas. Talvez fosse nesse ano que as fez pela última vez.
Tentámos fazê-las o mais parecidas possível...deliciosas com chá, mas eu prefiro-as com uma chávena de café!
Receita1 Kg de Farinha de Trigo sem Fermento (mais farinha para amassar )600 de Açúcar125 gramas de Manteiga ( derretida)1 Chávena de Azeite bem quente1 Ovo50 gramas de Erva Doce1 colher sopa de Canela10 gramas de Fermento de Padeiro4 dl de Leite mornoRaspa de 1 limão grande100 gramas de pinhões 250 gramas de nozesAmassámos numa taça o fermento com 200 gramas de farinha e água morna, logo de manhã cedo. Deixámos a massa descansar. No final da manhã colocámos a restante farinha e fomos depois juntando os restantes ingredientes a pouco e pouco. À medida que fomos amassando, íamos juntando farinha sempre que era necessário. No final juntamos as nozes partidas aos bocadinhos e os pinhões.Depois de bem amassada deixámos repousar até ao final da tarde num local quente. Quando estava leveda tendemos a massa em pequenas bolas que moldámos com as mãos. Colocámos em tabuleiros forrados de papel vegetal e polvilhados com farinha, foi a cozer a 200 graus durante cerca de 45 minutos cada fornada.Tentámos fazê-las o mais parecidas possível...deliciosas com chá, mas eu prefiro-as com uma chávena de café!
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