Raízes
quarta-feira, abril 19, 2017
"Não há como regressar a um local que se mantém inalterado para nos apercebermos da forma em que mudámos". Nelson Mandela
Como sinto quando tenho o privilégio de voltar a entrar na minha sala de aula da Primária (cada vez que há Eleições) ou quando volto a entrar no recinto da minha escola secundária (sempre que agora sou eu , crescida, que agora lá vai fazer Colóquios ou, no papel ali um pouco estranho, de mãe em reuniões da filha). Tudo parece infinitamente mais pequeno, estranho, diferente! O local não mudou. Fui eu. Ou não mudei? Parece que continuo igualmente infantil: a prender-me com pormenores a que mais ninguém liga, a deixar o olhar preso em momentos e paisagens visuais como se os olhos estivessem sempre a procura do melhor enquadramento... daquele momento em que a luz ilumina um rosto, banha uma paisagem, brilha numa mecha de cabelo...torno-me imensamente infantil quando, ao regressar de carro, em trabalho, com um colega o mando parar o carro para tirar uma foto e ele reclama que eu estou sempre a tirar fotos com os olhos!
Numa aparente imobilidade vou mudando, mudam os cenários...Os últimos tempos parecem um carrossel que gira vertiginosamente sem sair do mesmo sítio. De um dia para o outro no último ano as filhas ficaram a viver só comigo ( depois de anos de guarda conjunta com o pai), numa fase de adolescência, em que me sinto reduzida a "mãe motorista de Uber". Falta-me o tempo para as viagens, para as fotos, para uma parte que me é essencial: a da criatividade!Este vertiginoso girar tem -me deixado tonta! mas não parei... ajudei a lançar um outro blogue (que agora já tem pernas para andar sozinho) e produzi um vídeo ( que tinha prometido!) dos 18 anos de vida da minha filha mais velha.Vou apenas dando pinceladas daquilo que gostaria de fazer/criar e a aproximo-me vertiginosamente dos 50! Sem ter escrito ainda um livro! Valham-me as árvores que plantei e as filhas que já fiz!
Pelo facto de estar permanentemente com pessoas, trabalhar para pessoas, falar, ouvir, e ser espectadora das duras histórias que transportam, sinto necessidade de um espaço qualquer criativo que me permita desconectar. Mas este cruzar riquíssimo com histórias dramáticas, comoventes, divertidas, cruéis, inteiras... dá-me alguma tristeza por não ter capacidade de as eternizar em papel. De escrever sobre essa imensidão do ser humano que nunca pára de me surpreender. Ouço as mais belas e as mais terríveis histórias pessoais. E neste último ano, devido a novos desafios profissionais, fui" obrigada" a cruzar-me com as histórias tristes de muitas crianças... fui confrontada com a inimaginável e também imensa crueldade humana. Regresso a casa, muitos dias, carregando um enorme "peso", que fica só comigo... neste meu confronto permanente com o que há de mais humano.
E é por isso que regresso aqui a este lugar cheia de fome de palavras, de fotos, desta (re)flexão sobre mim própria. É também uma inconfessável vontade de permanecer nalguma imutabilidade: de pormenores, da terra, das raízes...embora escrever seja como fazer exercício físico: quando se pára por muito tempo fica a doer tudo. Escrevendo ou não sobre ela a vida não pára." E pur si muove".
0 Comments
Quer comentar?