Tarte de Morangos
quarta-feira, julho 04, 2018
"Viajem, experimentem, provem tudo...vivam a vossa vida a dançar, pois de momento, é a única que conhecem." Chakall
De férias, no meio da leitura da poesia completa de Manoel de Barros (livro que me ofereceu o meu primo Jorge no aniversário) ainda me aparece, por acaso, o livro de Chakall "Cozinha Divina", que acabo por "devorar" numa manhã de praia. Gosto de ler os autores que têm esta capacidade de remexer e rebuscar o seu passado, encontrando-se a si próprios, sem medo, nesse olhar. De algum modo, os autores sul-americanos são os que parecem ter uma capacidade muito própria, despudorada e ao mesmo tempo cómica de rever o passado. Sem dor fazem-no de uma forma até "gostosa", e com uma incrível capacidade de transformar os infortúnios em algo afortunado (ou engraçado). Nós somos mais comedidos, temos mais dificuldade em expor-nos, num olhar desses, sobre o passado, e quando o fazemos parece que escrevemos um drama ou uma letra do fado!
Quando remexemos lá atrás encontramos aquilo que hoje somos, e tal como Chakall revi-me nesse interesse tão precoce pela cozinha: tinha 8 anos quando entornei, sobre mim, um tacho, com água a ferver, queimando gravemente um braço, quando fazia lulas guisadas. Relembro até a camisola verde de gola alta que tinha vestida, mas mesmo que isto vos pareça um drama nada teve de traumatizante, porque nem isto me afastou do fogão! Nunca mais vesti foi camisolas de gola alta :)!
Os sabores e os cheiros são das minhas memórias mais importantes. Consigo relembrar o cheiro de certas pessoas passados anos...mas curiosamente não foi da minha mãe que herdei este gosto por experimentar e saborear comida, apesar dela ser uma ótima cozinheira! Foi da minha madrinha Encarnação, irmã do meu pai. Casada com um espanhol de "maus fígados" o meu tio Pepe, que era das pessoas mais exigentes e difíceis de contentar com a comida, e a minha tia, pacientemente, fazia-lhe todos os acepipes e receitas de forma a satisfazê-lo. O resultado era quase sempre um banquete requintado e sofisticado, que me fazia arregalar os olhos de espanto, quando me encontrava de férias, na sua casa, em Zaragoça!
Nas minhas memórias mais antigas tenho o sabor do primeiro iogurte de morango "yoplait" que me deu a provar (que na altura ainda não existia em Portugal). E retenho nos olhos a sua imagem a sair da cozinha com um bolo branco na mão, feito de chantilly, e coberto de cerejas vermelhas. Infelizmente para mim e para o meu primo Jorge, seus sobrinhos favoritos uma vez que não tinha filhos, ela morreu cedo demais e não pode ensinar-me a cozinhar. Ficou-me esta vontade de experimentar, de sentir a sensação boa de ter conseguido fazer alguma receita mais difícil e de ver o prazer dos outros quando provam e gostam da comida que eu fiz.
E sempre que eles aparecem, vermelhos e sedutores, os morangos, penso logo em fazer esta tarte, receita de uma amiga. Faço-a repetidamente, há anos. Mas depois fico invariavelmente irritada comigo por tender a fazer muitas vezes a mesma coisa, repetir receitas que gosto ou que os outros gostam muito. Acho que testarmos coisas novas e a que não estamos habituados afasta-nos de envelhecer. Obriga-nos a aprender e a sair da nossa " caixa de segurança". Neste momento sair da minha vai passar por criar ou recriar receitas mais saudáveis e com menos açúcar (que aqui não é o caso) de qualquer modo experimentem e provem...
INGREDIENTES:
3 Ovos
Açúcar (o peso dos ovos)
Margarina (metade do peso dos ovos)
Farinha com fermento ( metade dos ovos)
250 gramas de Morangos limpos e partidos em pedaços pequenos
Derreta a Margarina em banho-maria ou no microondas. Separe as gemas das claras e bata as claras em castelo.
Misture o Açúcar com a Margarina e bata bem. Acrescente as gemas e bata novamente. Deite depois as claras em castelo e misture com cuidado. Por fim acrescente a farinha e envolva com cuidado.
Deite numa forma de tarte com fundo amovível ( préviamente untada de margarina e polvilhada com farinha) e por cima deite os morangos espalhando-os por toda a massa.
Vai ao forno a 180 graus durante 45- 50 minutos.
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