"A Arquitetura é música petrificada" Johann Wolfgang von Goethe
No regresso de Málaga para Portugal, resolvemos alterar a rota para passar em Córdoba, só para visitar a Mesquita-Catedral de Córdoba.
A Mesquita situa-se no coração do centro histórico de Córdoba, a pouca distancia de Alcazar de los Reyes Cristianos, e de uma ponte romana que está perfeitamente preservada.
E a Mesquita-Catedral de Córdoba é mesmo uma sinfonia! Às vezes penso que sou eu que ouço e vejo coisas que não existem, por ter essa mania de sentir coisas de forma excessiva!? Mas só houve um local que visitei, até hoje, e me senti mal e infeliz: em Malaca na Malásia, e ainda hoje não consigo explicar porquê! De resto delicio-me com cada paisagem ou local que descubro, como este...
Aqui há uma desconcertante sinfonia onde nem tudo está em sintonia. Porque ela é uma Mesquita e uma Catedral num mesmo sitio! E numa altura que tanto se fala de deixar ou não construir Mesquitas na Europa, não deixa de ser interessante observar o maior ícone da evolução religiosa de Espanha.
No mesmo local onde hoje se encontra, começou por ser primeiro, um templo romano e depois uma igreja visigoda. Quando os Árabes aqui chegaram a igreja foi repartida, inicialmente, para que servisse tanto cristãos como islamitas, mas no século VIII, os Mouros reconstruíram o edifício transformando-o numa mesquita.
Em 1236, quando Córdoba foi conquistada pelos Católicos estes deixaram a Mesquita intacta até ao século XVI altura em que decidiram transformá-la numa Catedral Católica. Construindo a Catedral no seu interior, mas sem destruir a restante parte da Mesquita, o edifício transformou-se numa obra notável que combina e põe em diálogo o melhor da arquitectura moura e da arquitectura ocidental.É estranho a junção da elegância subtil do estilo mouro lado-a-lado com a arquitectura gótica e barroca.
Entrámos lá dentro e imediatamente nos perdemos uns dos outros, no meio daquela imensidão de arcos vermelhos e brancos, elementos arquitetónicos que tornaram a Mesquita visualmente tão famosa! Devido à uniformidade dos arcos dá a sensação de que não têm fim e a penumbra da luz, no seu interior, alimenta essa ilusão de infinito e de uma enorme grandeza.
Foi estranho ver a vivo um local que tanto vira em fotos. Foi novamente um exercício de paciência conseguir fotos sem gente e acreditem, estava pejado de gente! O curioso é que mesmo com muita gente e talvez pelos jogos de luz e penumbra sentimos-nos ali bem e em paz.
E cada ângulo parece novo e fascinante, e as pessoas tão pequenas e, ao mesmo tempo, sentirmos-nos ali tão sós. Um local cheio de magnitude e mistério, de harmonia e desarmonia mas em que duas religiões e arquitecturas coabitam num enorme respeito uma pela outra.
Quando saímos ficamos encadeados pela luz do sol escaldante cá de fora. Mesmo estonteantes ainda procurámos pelos pátios de Córdoba que foram declarados Património Imaterial da Humanidade pela Unesco) mas descobrimos que estes apenas estão abertos na Fiesta de los pátios de Córdoba. Restou-nos seguir para Portugal trazendo a vontade de regressar e descobrir melhor esta cidade.