"Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar" Guimarães Rosa
A pandemia mudou tudo, sem preparos de avisar. Nela vou navegando, tentando manter-me à tona, intercalando teletrabalho e trabalho presencial. As sessões que fazia para desempregados, olhos nos olhos, passei a fazer através de videoconferência. Foi uma grande mudança, quase um salto no escuro, que me fez sentir numa corda bamba, sem rede, porque num trabalho que é o meu, feito para as pessoas e com pessoas, não houve tempo para ensaios! O modo de estar com os outros passou a ser através do ecrã e nada nos preparou para isso!
Começo a habituar-me, mas ainda respiro fundo, cada vez que termino mais uma videoconferência com um grupo de desempregados. Sessões de informação. Informativas e chatas. Daquelas em que não existem buraquinhos em que possa pôr alma. Às vezes ainda tento, sem muito sucesso, encaixar um pouco de humor. Mas com isto descobri que o meu humor precisa de mim em corpo e alma: a fazer caretas, a piscar olhos e a gesticular desajeitadamente. Em pessoa! Falta espaço no ecrã para a minha figura melodramática!
Curiosamente, o humor que ali se instala, é o de sermos todos ainda muito desajeitados com esta tecnologia, o que acaba , muitas vezes, por nos abastecer de cenas curiosas que arrancam sorrisos e risos de todos os presentes: um gato que passa na frente do ecrã; uma criança que aparece a falar, de fraldas; uma câmara direcionada para um decote ou para as narinas peludas de alguém; uma esposa de avental que aparece para ver quem é a fulana que está a falar com o marido....ou até alguém que está a assistir no telefone e vai percorrendo a casa, de telefone na mão e câmara ligada, dando azo a indescritíveis situações...São essas coisas, quase pueris, que acabam por causar ali algum humor e aproximar (o possível) quem ali está. Porque nos revemos, frágeis e... humanos!
Apesar disto tudo, durante a videoconferência, é opcional manter a câmara ligada ou desligada, para quem está assistir. Uns mantêm ligada (e por isso é possível vê-los no seu próprio espaço), outros mantêm desligada, de forma que vez em quando pergunto-me se terão adormecido ou até se ainda ali estão (ou se terão ido apanhar a roupa ao estendal), enquanto eu vou desfiando o PowerPoint e só me apareço num pequeno quadradinho a gesticular.
No final, quando acabo todas as informações e paro a apresentação, BUM💣! de repente apareço no ecrã, em grande, mas não em bom(!), perante o espanto geral! Não em bom, porque não fico lá muito favorecida! Apesar de pintar os beiços e até tentar vestir algo colorido da parte de cima (o que está vestido da parte de baixo, ali, não interessa nada!) com aquelas câmaras, fico ainda mais escura e com umas olheiras maiores ! No entanto é aí que faço magia: por um momento toda a gente se olha (aos quadradinhos) e até quem tinha a câmara desligada aí aparece! E ficamos todos suspensos a ver os nossos rostos sem máscara!
É difícil descrever esse momento...toda a gente se olha e faz-se silêncio. Viro-me então do avesso, sorrio e tiro da cartola, inesperadamente, palavras de fé, de esperança, de calor, de positividade!
"Ai que saudades eu tenho de pessoas! de atender-vos pessoalmente! Olhos nos olhos e dar-vos um aperto de mão!" Digo. E as pessoas sentem o que digo porque é mesmo verdade! As pessoas sorriem docemente ou fazem comentários!
O difícil depois é sair dali, fazer com que desliguem da sessão, que saiam daquele estado de transe, em que parece que entramos todos. Começo a pedir que desliguem, a despedir-me e a desejar boa sorte, e dou por mim em intermináveis "adeuzinhos" com as mãos, a responder a quem também acena. Quando desligo fico sempre com a sensação de ter desligado o telefone na cara de alguém! Porque as pessoas não desligam! Respiro fundo, um pouco perdida, porque, sem preparos, há um ano atrás não imaginava nada disto!
Merengue:
5 claras de ovo
200 gramas de açúcar em pó
Margarina Vaqueiro q.b. para untar
Recheio:
2 pacotes de natas ( de bater)
6 colheres de sopa de Bailey's
1 colher de sopa de açúcar em pó
Morangos, framboesas, mirtilos, groselhas q.b
Folhas de Hortelã para decorar
Pré-aqueça o forno a 180 º C. Forre um tabuleiro com papel vegetal untado de margarina.
Bata as claras bem firmes e gradualmente vá adicionando o açúcar em pó. Espalhe o merengue, uniformemente, no tabuleiro untado e leve ao forno até que o merengue esteja crocante por cima. Por baixo ainda estará um pouco mole! Retire do forno e desenforme em cima de outro papel vegetal polvilhado com açúcar. deixe arrefecer.
Entretanto bata as natas, o Bailey's e o açúcar até ficar um chantilly firme. Espalhe no merengue o chantilly e por cima espalhe morangos cortados grosseiramente, framboesas, mirtilos e groselhas. Usando o papel vegetal enrole com cuidado o merengue pela parte mais comprida do retângulo (as partes mais pequenas ficam para os lados). Por cima do rolo unte ligeiramente com o resto do chantilly e salpique com frutos vermelhos e folhas de hortelã. Polvilhe por cima com um pouco de açúcar em pó e mantenha no frigorifico até servir. Sirva como uma sobremesa de Natal🎄.